Quando ele entrou na taberna (estava o Taberneiro a fumar um cigarrinho à porta), estavam três mesas ocupadas: um casal de namorados (chá e torradas), uma quarentona (café e bolo de arroz) e a D. Ivone (da meia de leite e meia torrada de todos os dias). O puto trazia o mesmo ar de tantos (do boné virado para trás e camisola três tamanhos acima, das calças descaídas e dos ténis desportivos) que passam à porta e que vão parando para cravar um cigarro (apesar de não terem idade para tal) a um fumador com ar mais simpático (ou mais surpreso).
Passou a porta em passo rápido (quando passam a correr, ou fizeram alguma ou vão fazer) e disse algo em voz baixa junto à mesa da D. Ivone que logo tirou da carteira um euro (esta mulher acredita em tudo...) e lhe deu com um grande sorriso e um "se é por teres fome..." (sempre a mesma desculpa, agora sai a correr) e dirigiu-se ao balcão.
Olhou para as sandes de panado e ouviu logo um "essas custam um euro e meio" (gosto desta empregada nova, põe logo tudo e todos no lugar). Também olhou de relance para a sandes de ovo e uma voz resmungou surgiu atrás do balcão "essas são um euro e vinte. com esse dinheiro podes comer um bolo ou uma sandes de manteiga". Disse algo timidamente (agora é que vamos ver a tua fome, de certeza que vais pedir um bolo, eheheh) que fez com que a voz resmungona se afastasse e voltasse com uma carcaça e um olhar cabisbaixo (não é que o puto pediu o pão com manteiga porque tinha mesmo fome???).
Ao receber os vinte cêntimos de troco, colocou-os em cima da mesa da D. Ivone com um sorridente "muito obrigado".